Os lipossomas surgiram nos anos 60, mas só começaram a ser utilizados na cosmética em 1976. Consistem em pequenas “bolhas” invisíveis ao olho nu, que são revestidas por uma membrana semelhante àquela que reveste as células do nosso corpo (imagem acima).

Por serem tão semelhantes às membranas celulares, pensou-se que os lipossomas pudessem ser utilizados para encapsular ingredientes ativos cosméticos e aumentar a sua penetração, já que circulariam melhor entre as células do que os mesmos ingredientes não revestidos, e ao mesmo tempo poderiam fundir-se com elas, libertando o conteúdo para o seu interior (imagem à deireita). Além disso, a sua semelhança com as membranas biológicas torna-os toleráveis até para a pele mais sensível.

Funções dos lipossomas

Quando, aplicados à cosmética, os lipossomas podem conter inúmeros ingredientes ativos no seu interior com vários objetivos:

  • Proteger os ingredientes da degradação causada por fatores ambientais, como a luz, calor ou oxigénio, entre outros (ex: antioxidantes);
  • Melhorar a sua penetração até às camadas da pele onde estes devem atuar (ex: vitamina C);
  • Prolongar a libertação e absorção dos ingredientes pela pele:
    • Para que ela se dê por mais tempo, minimizando número de aplicações necessárias (ex: ceramidas, para prolongar a hidratação da pele);
    • Diminuindo a irritação que alguns ingredientes podem causar (ex: retinóides);
  • Melhorar a estabilidade da formulação, que possa ser afetada por determinado ingrediente;
  • Permitir utilizar ingredientes incompatíveis entre si ou com a formulação num mesmo produto;
  • Fornecer à pele ácidos gordos e outros lípidos provenientes do revestimento dos próprios lipossomas.

Desvantagens dos lipossomas

Estas estruturas podem apresentar também algumas desvantagens, relacionadas com a sua capacidade de oxidação, fusão, ruptura ou agregação; que podem levar à sua degradação ou perda de função.

A probabilidade de estes problemas acontecerem e a sua extensão dependerão em grande parte do tipo dos fosfolípidos usados, formulação, embalagem e condições de armazenamento do produto cosmético, entre outros fatores.

Outras tecnologias de encapsulação

Para ultrapassar alguns destes problemas e até aumentar a eficácia dos lipossomas, surgiram nos últimos anos algumas tecnologias novas, das quais provavelmente já ouviram falar:

  • Niossomas

São vesículas revestidas por tensioativos (ou surfatantes), em vez dos fosfolípidos usados tradicionalmente. Estas vesículas são mais estáveis, e podem melhorar o fornecimento de ingredientes ativos aos locais da pele em que são necessários. Contudo, podem ser não ser tão bem toleradas pela pele.

  • Ultrassomas

Lipossomas que contêm a enzima endonuclease, que nos organismos vivos tem como função reparar o dano induzido no DNA pela luz UV, mas também reduzir a libertação de moléculas pró-inflamatórias.

  • Fotossomas

À semelhança dos ultrassomas, os fotossomas contêm também uma enzima responsável pela proteção do DNA contra a radiação UV, a fotolíase.

  • Marinossomas

Consistem em lipossomas revestidos por lípidos de origem marinha, que podem ser constituídos por ácidos gordos poliinsaturados, cujas propriedades anti-inflamatórias são largamente reconhecidas.

  • Nanossomas

A redução dos lipossomas à escala das nanopartículas pode melhorar consideravelmente a sua penetração e absorção, retardar a libertação de ingredientes ativos, e acrescentar outras vantagens que justificam o uso de lipossomas. 

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Marta Ferreira, farmacêutica e fundadora da comunidade “a pele que habito


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