Quando comecei a escrever esta publicação estava longe de imaginar a dimensão iria ter… Por ser um assunto tão complexo, torna-se difícil de abordá-lo sem correr o risco de esquecer algum ponto relevante, ou ainda de ser injusta para com algum produto em particular. Talvez por isso, este post está “no forno” há quase 2 anos…
Pensei em dividi-lo em duas partes, tal como já faço em algumas situações, mas achei que para este tema em particular não fazia sentido. Acaba por perder-se o “fio conduto” que é tão importante para perceber esta questão como um todo.
Por isso, decidi desconstruir este tema apresentando alguns dos pontos de que é que dependem tanto a eficácia como o preço dos produtos cosméticos, mencionando exemplos em que na minha opinião pessoal o investimento se possa de facto justificar. No final, deixo ainda umas dicas que poderão ajudar nas vossas compras futuras 🙂
- Características dos seus ingredientes

- Capacidade de penetração do produto

O ácido hilaurónico ou o colagénio, por exemplo, são muito eficazes no preenchimento das rugas quando injetados diretamente abaixo da epiderme. No entanto, e por se tratarem de moléculas de grandes dimensões, quando são aplicadas à superfície da pele não serão absorvidas tão profundamente, ou pelo menos isso não ocorrerá numa grande proporção. Por isso, em produtos cosméticos destinados ao combate do envelhecimento, os produtos contendo colagénio e ácido hialurónico são incapazes de reocupar os locais da pele onde fazem falta para lhe proporcionar firmeza e preenchimento. Isto não invalida o facto de estas moléculas terem um efeito humectante (hidratante), o que por si só pode dar um efeito temporário de preenchimento da superfície da pele.
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Imagem de Heimat |
Por outro lado, também a conjugação de todos os ingredientes do produto final é determinante para uma boa penetração dos ativos.
Uma formulação que contenha vitamina C, mas não se encontre a um pH suficientemente ácido impede que esta molécula ultrapasse as camadas superiores da epiderme. Desta forma, não se tira o maior partido dos benefícios deste ingredientes.
- Conjugação de ingredientes
Por outro lado,
A veiculação da vitamina C pura (ácido ascórbico) num produto com base aquosa exige alguma “manobra” tecnológica para proteção deste ingrediente (encapsulação, recurso a embalagem com características especiais, etc), sob pena de a vitamina C se oxidar e de o produto se tornar inativo.
Não são muitos os caso de interações negativas, e quando elas existem os próprios formuladores tê-las-ão em atenção de uma forma geral
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Imagem de dakotascarlett |
- Acondicionamento
São exemplo disso ingredientes com propriedades antioxidantes (que oxidam em contacto com os radicais livres atmosféricos e com o auxílio da luz), ou os retinóides, que são sensíveis à radiação.
- Características de quem o utiliza
Por um lado, a eficácia de um produto cosmética não deveria depender significativamente da pessoa que o usa. Contudo, não nos interessa que um determinado produto seja suportado por um estudo que afirma comprova a sua eficácia, quando não a conseguimos sentir.
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Imagem de Bruce Plante |
Isso pode acontecer por vários motivos, e um dos principais será a nossa “necessidade” relativamente àquele produto, sobretudo se falarmos em algo que terá um efeito ótico, como é por exemplo um hidratante.
Não é difícil perceber porque é que uma pele desidratada sentirá uma maior diferença ao usar um bom hidratante do que uma pele hidratada. Também não será de estranhar que um creme com ação refirmante tenha um efeito muito mais notório em alguém cuja pele apresente flacidez. Em contrapartida, alguém que apresente uma pele seca poderá até sentir desconforto utilizando um produto de acabamento matificante.
Para dificultar ainda mais a situação, existe também uma percepção da eficácia diferente entre as pessoas, dependendo do seu grau de exigência em relação ao efeito dos produtos cosméticos. Conhecem aquela pessoa que adora todos os produtos que experimenta, e para quem tudo faz milagres? Em contrapartica, conhecerão também aquela pessoa que diz que os produtos cosméticos são todos uma “aldrabice”!
- Preço e a concentração dos vários ingredientes
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Imagem de DR. JACKSON’S |
Foquemo-nos apenas nos ingredientes ativos (coitadinhos dos excipientes…): a maioria dos ingredientes de eficácia comprovada não eleva significativamente o preço do produto final. Exemplo disso é a marca The Ordinary (juro que a DECIEM não me paga!), que dispõe de uma panóplia de produtos contendo estes ingredientes a preços bastante reduzidos.
No entanto, alguns ingredientes exóticos, como extratos de plantas raras, óleos essenciais, ou moléculas desenvolvidas e patenteadas por uma determinada marca poderão encaracer bastante a formulação final, sem que muitas vezes lhe acrescentem uma eficácia mensurável. Isto é especialmente relevante para os extratos de plantas, que consistem em misturas diluídas de diversos compostos presentes em partes especóficas da planta original. Embora alguns desses compostos presentes na planta ou conjunto de todos eles possa ser benéfico para a pele, cabelos ou unhas, a concentração de cada composto no próprio extrato é geralmente baixa, sendo ainda mais reduzida num produto cosmético final.
Por último, é importante ter em conta o poder negocial da marca em questão. Naturalmente as marcas pequenas terão uma menor capacidade para negociar os preços dos ingredientes e todos os materiais que utilizam para a produção de produtos cosméticos, o que torna os seus produtos bastante mais caros. Esta questão é ainda mais relevante se utilizarem ingredientes ou métodos de produção que em todo o caso já seriam dispendiosos. Não é à toa que a marca acima mencionada usa geralmente um/dois ingredientes ativos por produto.
- Embalagem
- Posicionamento da marca

- O local onde a marca pode ser vendida,
- A gama de preços em que os seus produtos se insere,
- A percentagem de orçameno que essa mesma marca dedica a publicidade/comunicação nos mais diversos meios disponíveis (TV, revistas, redes sociais, influencers, mupis, etc.)
(Pessoas do marketing, sintam-se à vontade para me corrigir se estiver errada!)
Isto explica em parte porque é que marcas que pertencem à mesma empresa e cujos produtos têm muitas vezes formulações semelhantes cobrem preços tão diferentes no supermercado, na farmácia, cabeleireiro ou perfumaria.
A cada posicionamento corresponde um consumidor específico, e é também importante reconhecer que há consumidores que priveligiam verdadeiramente aquilo que consideram ser uma experiência de luxo nos seus produtos cosméticos.
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Imagem de Shiseido |
- Priveligia produtos de marca?
- Alguns produtos de maquilhagem…
Os produtos de cobertura para pele, como corretores, bases de maquilhagem ou pós poderão justificar um maior investimento. Isto tem a ver com a maior variedade de pigmentos de que as marcas mais caras dispõem, e que permite que estes produtos se aproximem mais do tom de pele natural de cada pessoa. Por outro lado, podem também ter um melhor o acabamento e durabilidade.

- Procura ingredientes e tecnologias que são naturalmente mais caros?
Nesses casos, o preço que o fabricante paga também se refletirá no produto final. Mas se tem boas razões para gostar especficamente desse ingrediente, ou se esse ingrediente for promissor, poderá ter um bom motivo para investir!
- Tem uma pele particularmente sensível
Não quer dizer de forma alguma que os produtos mais baratos sejam sempre mal tolerados. No entanto, quem tem más experiências com a maioria dos produtos cosméticos que utiliza poderá ter que optar por comprar todos os seus produtos em gamas adaptadas para pele sensível, e que estão mais presentes em farmácias ou perfumarias (a Clinique, em particular).
Algumas gamas para pele sensível poderão ser mais caras do que as gamas de supermercado, e em algumas situações poderão até ser mais caras do que gamas similares de farmácia:
Nos casos em que não são utilizados conservantes, por exemplo, é preciso utilizar de materiais de embalagem e métodos de produção especiais, o que torna o produto final mais dispendioso.
Também no cuidado das peles sensíveis o avanço da tecnologia tornará esta diferença de preço cada vez menos relevante.
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Imagem de John McPherson |
Claro que sim!
- Ter em mente aquilo que é (realmente) necessário
Todos temos uma rotina de cuidados de pele, cabelo e maquilhagem mais ou menos fixa. Essa rotina depende do nosso tipo de pele/cabelo e eventuais preocupações associadas, mas também dos nossos gostos pessoais. Podemos por exemplo começar o dia limpando a pele com um gel, aplicar um sérum e completar o cuidado com um protetor solar, uma base de maquilhagem e um batom, ou simplesmente limpar o rosto com água e sair para a rua (o que desaconselho vivamente…).
- Ler o rótulo com atenção, e se necessário consultar a lista de ingredientes
Desta forma podemos escolher os produtos mais eficazes para cada tipo ou preocupação de pele, tendo em conta as suas alegações (aquilo que o produto “diz” fazer) e dando prioridade àqueles ingredientes ativos que sabemos serem mais eficazes para cada situação.
- Procurar “reviews” na internet, ou pedir opiniões junto de pessoas de confiança
Não é de todo um método infalível, mas pode funcionar como critério de desempate entre 2 produtos ou em caso de indecisão se devemos comprar um determinado produto. Esta estatégia é tanto mais válida quanto mais parecida connosco for a pessoa a quem pedimos opinião, seja em relação ao tipo e/ou eventuais preocupações de pele, seja no que toca às preferências pessoais. No caso da maquilhagem, a comparação do tom e subtom da pele poderá também ser um ponto relevante.
Se gostam de basear-se em reviews, é igualmente importante perceber se se trata de conteúdo pago ou se a pessoa em questão vende a marca, e nesse caso recomendo tomar a opinião em questão com “um grão de sal”.
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