Slugging: ato de deixar a pele com a aparência de ter sido “lambida” por uma lesma. Não, esta não é uma definição do dicionário. Mas podia ser, já que é exatamente disso que se trata. E perante esta descrição nada sedutora, porque é que o slugging é tendência?

O que é o slugging, e como se pratica?

O slugging consiste em aplicar uma camada de um semissólido oclusivo, geralmente vaselina, sobre os restantes produtos da rotina de cuidados de pele. Segundo os defensores, esta camada como que “sela” tudo o que foi anteriormente aplicado, aumentando a hidratação da pele e consequentemente a penetração dos ativos da rotina. Realço que a vaselina, e restantes derivados do petróleo (e não petróleo) usados em cosmética são seguros.

Apesar de a vaselina ser a opção mais popular e económica, slugging também pode ser realizado usando cremes gordos, pomadas, ou outros produtos com elevado conteúdo de óleos que impeçam a perda de agua para a atmosfera. Devido ao aspeto final do rosto, o slugging é usado essencialmente na rotina de noite.

Embora o slugging tenha vindo a see apontado como uma prática coreana, esta técnica é antiga e foi adotada pelas comunidades farmacêutica e médica há vários anos.

Permeação de ingredientes

Quando aplicamos um cosmético na pele, e pretendemos que os seus ativos atuem na epiderme viva ou na derme, encontramos um grande obstáculo: o estrato córneo. O estrato córneo é a camada superior da epiderme, constituída essencialmente por células mortas. Estas células encontram-se revestidas por queratina, uma proteína que as impermeabiliza, e rodeadas pelo cimento intercorneocitário, uma mistura de lípidos que repele, igualmente, a água. Assim, a combinação das celulas revestidas por qureatina e do cinmento intercorneocitário é muitas vezes comparada à aparência de um muro de tijolos e cimento. O resultado? Uma autêntica barreira à entrada de substâncias estranhas e saída de água e conteúdo da pele. Sim, ao contrário do que muitas vezes se diz, a nossa pele é muito eficaz nesta sua função. Contudo, esta função de barreira também se aplica aos nossos produtos.

Isto é especialmente relevante para ingredientes que atuam na epiderme viva e derme, como:

  • Hidratantes (ex: glicerina)
  • Regeneradores da função de barreira da pele (ex: niacinamida, pantenol)
  • Despigmentantes (ex: ácido tranexâmico, derivados do resorcinol)
  • Promotores da renovação epidérmica (ex: retinóides, N-acetil-glucosamina)
  • Protetores da integridade da matriz dérmica e promotores da síntese dos seus componentes (ex: retinóides, vitamina C).

Como podemos então contrariar este fenómeno? Há várias formas de aumentar a permeação de ativos através do estrato córneo. O uso de ingredientes como a ureia ou ácido oleio, por exemplo, que criam pequenos canais entre o cimento intercorneocitário, é bastante comum. Ultimamente, temos ouvido falar também de microagulhas, que permitem um efeito mais profundo. Uma outra estratégia passa por gerar oclusão.

Oclusão

A oclusão consiste na criação de uma camada contínua à superfície da pele, que impede a perda de água para a atmosfera. Esta camada pode ser composta por uma compressa de silicone, um adesivo, ou um semissólido, como a vaselina. É de realçar que a água presente na pele provém essencialmente da circulação sanguínea, embora os hidratantes possam aumentar o seu conteúdo de forma temporária.

E é precisamente isto que se pretende com o slugging: à medida que o tempo passa, o conteúdo de água da pele sob oclusão aumenta, e esse aumento de hidratação contribui para uma menor coesão do estrato córneo. Desta forma, a penetração dos ingredientes que se encontram à sua superfície será também superior. Por outro lado, o aumento da hidratação da pele melhora a sua suavidade, luminosidade, e pode desta forma camuflar a aparência de rugas. Adicionalmente, o facto de existir uma camada “protetora” sobre os restantes cuidados de pele, pode reduzir a sua remoção por fricção com a almofada, ou pelo toque das mãos.

Será que o slugging faz mesmo a diferença?

Dificilmente saberemos. Porque esta prática, que pode parecer inédita, na verdade não é. Isto porque qualquer hidratante contém ingredientes que proporcionam algum grau de oclusão. Além disso, a penetração de ingredientes através da pele intacta é limitada, mesmo com o auxílio de promotores de penetração.

Assim, e se já usarmos um hidratante adequado ao nosso tipo de pele (e não dêem este dado por adquirido!), será que o slugging será tão benéfico?

Quem beneficia do slugging?

O slugging pode ser interessante numa pele muito seca ou que se torna seca em climas propícios.

Por outro lado, quem gosta da sensação de ter uma boa camada protetora à superfície da pele antes de dormir pode beneficiar desta prática, seja com vaselina, ou qualquer outro hidratante rico em ingredientes oleosos.

Quem não beneficia do slugging?

O slugging pode ser contraproducente em várias situações:

  • Pele oleosa e/ou acneica, não só por ser pouco agradável, mas também por poder contribuir para a obstrução dos folículos;
  • Rosácea, já que este bloqueio parcial da evaporação de água eleva ligeiramente a sua temperatura superficial. Isto contribui para a vasodilatação dos capilares sanguíneos, e consequentemente para o aumento da vermelhidão da pele.
acne

Recomendo o slugging?

A menos que nenhum hidratante do mercado vos satisfaça, ou que pretendam mudar-se para o Pólo Norte, provavemente não será necessário recorrer ao slugging.

Quando ponderamos adicionar um passo à nossa rotina de cuidados de pele, é importante avaliar se estamos perante uma necessidade, ou se a rotina atual não está a funcionar porque os seus produtos não são os mais adequados. Ora, se esta rotina já inclui um hidratante, e se este hidratante se tem demonstrado suficiente para manter a pele suave, luminosa e confortável, o slugging pode ser redundante ou até contraproducente, como vimos acima.

O André e a Sara tem também comentários muito pertinente a esta prática.

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Marta Ferreira, farmacêutica e fundadora da comunidade “a pele que habito